Neste 13 de junho de 2019, quando o Inter de Lages completa 70 anos, é fundamental que se faça registro de grandes feitos do passado, as vitórias memoráveis, os craques inesquecíveis. Mas a celebração das sete décadas de vida é também um bom momento para reiterar a mensagem que fica na entrelinha das atividades do time que agora, em 2019, acaba de começar a disputa da Série B do Campeonato Catarinense: trata-se de um clube que tem não apenas passado, mas também presente e, contrariando qualquer prognóstico, até mesmo o de seus fundadores, também futuro.
O Inter foi moldado pelas dificuldades – e pela superação desses obstáculos. Já em sua primeira partida, no dia 4 de setembro de 1949 – poucos meses depois de sua fundação, em 13 de junho –, teve que enfrentar o barro e o mau tempo em Painel para se refazer de um revés inesperado: naquele primeiro amistoso, disputado contra o Painelense, o Colorado Lageano saiu atrás no placar, e vitimado por um gol contra. A partida terminou com empate por dois a dois. Os colorados pioneiros não se deixaram abater pela dureza dessa tensa estreia. Era só um amistoso, mas estava em campo uma camisa que não havia nascido para se entregar.
Em 1955, o clube enfrentou sua primeira grande crise. Os principais jogadores deixaram o clube atrás de melhores salários tanto em Lages quanto em outras cidades. Não havia dinheiro para fazer frente aos concorrentes, mas havia um bando de meninos habilidosos e com fome de bola. Foi aos antigos juvenis, então já aspirantes, que Armindo Araldi – um dos 12 garotos que fundaram o clube em 1949 e que naquele momento ocupava a primeira vice-presidência – recorreu para manter acesa a chama vermelha. Unidos dentro e fora do campo, os aspirantes toparam o desafio de brigar pelo Citadino, então a principal competição disputada pelo Inter. “Nós vamos, seu Armindo. Mas vamos todos juntos”, disseram os garotos. O sonho colorado não morreria em 1955 – e entre aqueles meninos destemidos estava Áureo Malinverni, jogador que anos depois faria história no Grêmio como multicampeão do Rio Grande do Sul e que chegaria à Seleção Brasileira.
Uma década depois, o Inter sagrou-se campeão catarinense com um time em que brilharam ídolos como Zezé, Puskas, Anacleto e Setembrino. O título de 1965 – conquistado na vitória por dois a um contra o Metropol, disputada no dia 27 de março de 1966 – parecia o prenúncio de voos ainda maiores, como a disputa da primeira competição nacional, a Taça Brasil de 1966. Mas, poucos anos depois, as dificuldades voltaram a marcar a vida colorada. Em 1971, o clube chegou a cogitar o fechamento de seu departamento de futebol e se licenciar, mas conseguiu juntar forças e seguir adiante.
O Colorado Lageano escreveu outras páginas memoráveis em sua história, como no vice-campeonato estadual de 1974 e na conquista da Taça Dite Freitas, em 1985, dois de seus grandes feitos na elite do futebol catarinense, mas as dificuldades sempre reapareciam. Em 1988, o Inter foi rebaixado pela primeira vez para a segunda divisão. Seria a pá de cal definitiva na vida colorada? Longe disso. “Quatro décadas antes, quando ajudei a fundar o clube, nós não tínhamos dinheiro nem para o primeiro jogo de camisas. Eu sabia que o rebaixamento não ia matar o Internacional”, afirmou Armindo Araldi anos depois daquela primeira queda, segundo registro do livro Aquelas Camisas Vermelhas, de Mauricio Neves de Jesus. “Porque nada, jamais, em tempo algum, irá matar o Internacional”.
Sem que deixasse de existir, o Inter chegou a se afastar das competições em três oportunidades. A primeira delas, a mais longa, se estendeu de 1996 a 1999. Depois, em 2003, o clube mais uma vez não disputou campeonatos. A terceira foi em 2009, justamente no ano em que completou seis décadas de vida. No dia 13 de junho daquele ano, em uma solenidade não-oficial, torcedores e ex-atletas e dirigentes celebraram os 60 anos do Inter reunidos em frente ao Vermelhão, antiga sede do clube, levando cuias de chimarrão e sacos de vergamota, fruta muito consumida nos jogos no Estádio Vidal Ramos Júnior. O ex-presidente Antônio Ceron, hoje prefeito da cidade, quando perguntado por um repórter se lamentava o fim do Internacional, apontou para os torcedores que participavam do ato e retrucou: “Como assim? Você não está vendo essas faixas, bandeiras e camisas vermelhas? Não percebe essa alegria?”, disse o ex-presidente. “O Inter está muito vivo, meu rapaz. Muito vivo!”
O Inter de Lages é um símbolo de identidade dos lageanos há sete décadas. E, como atestam os inúmeros episódios de superação de dificuldades ao longo desse tempo, é também sinônimo de perseverança. As fotos em preto e branco do passado deixam saudades, mas as fotos em vivas cores de 2019 relembram que o que se celebra hoje não é apenas o passado de um clube, mas também o fato de que ele está mais uma vez em busca de sua próxima história de superação. O Esporte Clube Internacional tem passado – e tem futuro.
(Artigo publicado originalmente na revista Expressiva)
