Por Mauricio Neves de Jesus
Eu ainda me lembro, Zé.
Faz 43 anos, mas parece que foi ontem. Você recebeu um passe e pisou na bola. A gente ainda não te conhecia, e alguém gritou lá do pavilhão: - Solta a bola, ô Pernalonga!
Você então deu um giro, jogou a bola na frente do beque e mostrou que sabia usar as pernas longas. Chegou na frente, driblou o goleiro e rolou mansamente a sua amiga para dentro.
A cena se repetiu muitas vezes depois. Você nunca cansou de balançar a rede, de servir gols para seus companheiros e de fazer amigos.
Eu ainda me lembro de um gol de falta contra o Araranguá, em 1994, Zé. A torcida estava pegando no seu pé. Você meteu a bola na gaveta, e correu para o lugar de onde saíam os xingamentos. Ficou todo mundo olhando. Você se curvou, fez uma reverência e saiu sorrindo.
Eu ainda me lembro de quando você adiantava a bola, e parecia que ia perder o lance, mas esticava a perna e completava o drible que só você sabia fazer.
Eu ainda me lembro, Zé, que no dia do lançamento do livro "Aquelas Camisas Vermelhas", você me abraçou e disse:
- Agora eu tô tranquilo, não vou mais morrer. No dia que o corpo cansar, eu vou continuar aqui nas páginas do livro.
Por isso, Zé, eu preciso dizer a verdade para todo mundo: você não morreu.
Neste exato momento, você deve estar olhando para a grande área do céu, se preparando para colocar a bola na cabeça do Jones. Um dia eu chego aí para aplaudir. Por enquanto, o que posso dizer é isso: eu ainda me lembro, Zé. E não vou esquecer jamais.
Um abraço pro amigo.